“Aprendi que um homem só tem o direito
De olhar outro homem de cima para baixo
Quando vai ajudá-lo a levantar-se.”
GABRIEL GARCIA MARQUES
CONSELHO VINICIANO
Ao escrever, seja leve, não vago.
Íntimo, não intimista;
Seja claro e preciso, nunca pessimista.
Tenha uma linguagem positiva,
Concreta e abreviada.
Dispense os adornos inúteis.
Fique discretamente por trás daquilo que escreve,
Sem medo ou angústia
Mas com a íntima certeza de estar fazendo
O melhor para fortalecer e iluminar
Os espíritos mais humildes
De nossa frágil sociedade.
PEQUENA GAIVOTA
Você
É um pássaro
Ainda pequeno e desajeitado.
Mas nenhum pássaro voa sem deixar o ninho, se atirar no abismo.
Tente o vôo! Se cair levante-se e tente novamente! Nunca despreze
A técnica! Nunca despreze quem pode ajudá-lo a voar mais alto! Nunca se despreze!
Voe livre ainda que sozinho e não se preocupe com opiniões pejorativas e
Invejosas de pássaros alquebrados pelo peso da desesperança
E do medo. Voe o mais alto que puder para alcançar
Seus objetivos. Só assim você poderá ser
Mais confiante, mais amigo,
Mais humano,
Vitorioso.
Ser
V
O
C
Ê
.
USURA
Todo governo
Vive às dispensas do povo
Mas nenhum sobrevive
Taxando-o de burro.
ANTÍTESE
Prefiro
Uma mentira que me faça rir
A uma mão cheia
De verdades lacrimejantes.
INVERNO
Vago ruas solitárias
De frio névoa garoa
Vago só mente à toa
Nesse dia que esqueceu
Do sol do céu das pessoas
E numa persistência tola
Tentou teimou amanheceu.
LIBERDADE CATIVA
Voei alto nas asas da imaginação
Procurando pela liberdade
A passos lentos me alcançou a solidão
Jogando-me nos braços da saudade.
MEU JEITO
Ando não corro
Não paro jamais
Por vezes passos à frente
Por outras, passos atrás
Sigo contido
Correndo perigo
Por todo lugar
Mas sigo contente
Pois sei que há gente
Há sempre um amigo
A se preocupar.
Em mim vive um homem
Um Deus um menino
Andando caminhos
De pontas arestas
De portas e frestas
Ansiando chegar
Chegar não sei onde
Aonde chegar sei lá
Ando não corro
Não paro jamais...
ALVORADA
O clarinete chora
Madrugada afora
Sob a luz da lua
A falta que faz você
Na algazarra do alvorecer
completa mente nua.
ALBATROZ
Tenho as asas abertas
Tamanhas abrangem tudo
Vôo por áreas desertas
Onde as cores falam
E o som fica mudo
Não participo de nada
Tudo fico a observar
Tenho a boca selada
E um discurso no olhar
Sou um pássaro grande
Desajeitado e louco
Louco para pousar
Fazer morada num ninho
Descansar um pouco
Ser um albatroz
Livre da solidão
Continuar meu caminho
Dentro de um coração.
NOITE
Chove é verão
Cheira terra
A úmida boca da noite
Embriagada
De prazer pela lua
Que insinua
Caminhos solidários
A dizer
Que nada é impossível
Enquanto luz.
MANTO
Vai-se o sol
Fim do dia
Na flauta (de Gounot)
Ave Maria
Passa a noite a cair
Feito manto ajeitado
Sobre os ombros
Do poeta.
OS PODEROSOS E AS POMBAS
(para John Lennon)
Olhem no alto
Abaixo do azul
Ao nível das nuvens
Acima de nós
Algo supremo silencioso pairando no ar...
Não!!!
Não manchem esse branco
Gracioso e puro
Com um vermelho encarnado e duro
Simplesmente olhem
Com olhos de poetas
Sentidos de profetas
Reverenciem chorem
Por fim
Desengatilhem suas armas
E dêem mais uma chance à paz
E dêem mais uma chance à paz
Se dêem mais.
OLHOS POÉTICOS
Os olhos que acompanham
O vôo de uma ave
- Câmera lenta aero- espaçonave -
São olhos que voam pra’lém do que vêem
Olhando pra’lém do que podem voar
São olhos científicos poéticos e finitos
A olhar infinitos
A olhar infinitos
A olhar...
OLHAR CRISTALINO
Olhos visão de um coração que bate
Em cada célula
Vivificada pela ilusão de harmonia no caos.
Olhos prismas dos colores cósmicos
Derramados sobre formas
Transformadas flores.
Olhos Ray Wonder que brilham na escuridão
Com o cristalino incrustado
Dentro do coração.
RIMBAUD
Após oito anos luz
Pelos caminhos do inferno
Entro num cabaré
Faminto de olhos tetas e bocados
Regados a sossego.
No chope gelado
Uma réstia de sol ilumina
Ainda que tardiamente
Meu pensamento.
CÂNDIDO
Pintura milagre da luz
Transformada em nuanças coloridas
pela mente mãos cálidas
De um pintor completamente genial
Desses iluminados
Na loucura refinados
Saborosos como o sal da vida
Parida na cor dolorida do amor.
SEGUINDO A LINHA
Deixei meu passado entulhado
Num canto qualquer da memória
Não vim de ontem sou de hoje
Não tenho história.
Experiência?
É o ar que respiro na brisa do agora.
É reaprender cada minuto que morre
Sem envelhecer
No tempo que corre.
DOR ESQUECIDA
No torpor vermelho vinho
As canções são mais sentidas
Estranhamente coloridas
Feito quadros de Dali.
Uma lágrima traiçoeira
Desgarrada incontida
Revela uma ferida
De não cicatrizar.
RIMBAUD
Escarros vermelhos ecoam no infinito azul
Batalhões tombam aos pés do rei
Que os xinga...
Enquanto pequenos deuses
Do alto de seus altares
E suas taças de ouro
Embalados por preces e cantos adormecem.
Só despertam
Quando mãos estendidas calejadas
Sofridas subjugadas
Entregam-lhes tudo o que têm:
O último vintém.
FERNANDA
(UMA ROSA AZUL)
Eu vim e vou caminhar
A estranha estrada de terra
Vermelho é o sol que se põe
No azul de uma rosa que nasce
Aos olhos infantis que adormecem.
MECKINHO
A imobilidade
Do grande mestre
Contrasta
Com a fúria de seu raciocínio.
Na aparência
Um monge tibetano,
Na determinação mental
Um moderno
Gladiador.
MIRACLE
Rimo a rima que rimar
Escrevo a fala do cantar
Sonho pensamento futuro
Sinto o que sinto sei lá.
Estranho é estranhar minha palavra
Pois ela não cura ou agrava
Um estado de coisas suaviza
Sendo assim só faz melhorar
Esse espaço esse ar essa lida
Colorida poesia bonita
Que inútil seria explicar
O milagre singular dessa vida.
VENDAVAL
(Para Maiakovisky)
Não quero ser entendido
Por minha pátria.
Nem vou passar pela vida
De viés
Como a chuva oblíqua passa.
Quero ser entendido
Por amigos, parentes
E pessoas inteligentes.
Se não for, não os culpo
Sou um pé d’água em fins de março
E um pé no saco dos fracos.
CANDELÁRIA
A polícia reza missa
Com a voz da metralha
Mata um
Mata dois
Mata oito
Na candelária.
Tenta cortar
O mal pela raiz
Podando apenas
As folhas da violência,
Que demência!
VOLPI
Enfim
Cansado de colorir
Suas bandeirinhas
O garoto escolheu
A mais bela estrela
E cobrindo-se de azul
Adormeceu.
GUERREIROS
Soldados valentes
Crédulos e cansados
De carregarem
Sobre os ombros doentes
A cabeça de um rei
Eternamente embriagado.
QUINTANA
Tenho nas mãos uma jóia
Lapidada por um menino
Franzino de 87 anos
Que solitário segura o céu
Como uma bela e imponente
Coluna grega.
2001
Virei com o século
Venci o pesadelo
E neste segundo sono
Escolherei meu sonho
Com maior desvelo.
ÓCIO
Uma garrafa vazia
Um copo pela metade
Pablo Neruda na mão
Na mente uma canção
De liberdade.
RIMBAUD
Bebo chope fumo jogo e daí?!!!
Pombos cagam sobre mim
Enquanto sonho...
Meu coração anêmico sangra triste
Enquanto mijo alto e longe
Rumo ao negro firmamento.
SEM PALAVRAS
O poeta necessita
De palavras em seu poema
Mas a poesia
Dispensa
Palavras e poetas.
CALEIDOSCÓPIOS
Olhe-me veja
Remexa já não sou
Vire
Lá estará outro eu
Outro lugar
Somos assim
Caleidoscópios a girar
Se transmutar
Explicar isso não dá
Mas ainda podemos cantar
Aquela canção do sorrir e caminhar...
Caminhar por este chão
Comum camaleão.
RIMBAUD
Eu caminhava roto torto fodido
Sonhando ainda.
Minhas calças em frangalhos
Deixavam à mostra minha bunda
Diante da ursa maior...
Eu enchia o rabo de pinga
Enquanto procurava caminhos.
LOUCOS ALEIJADOS
Quantas vezes
Usamos as muletas
Da religião da moral da sanidade
Por não confiarmos
Em nossas convicções
Sentimentos idéias e ideais...
Por não confiarmos
Em nossa própria loucura.
CONSELHO
Sabe de uma coisa colega
A vida está difícil demais
Mas um poeta não se entrega
E não desanima meu rapaz.
Ser poeta, meu amigo.
É ser criança forte e frágil
Humano, fera, rocha e abrigo.
É trazer na alma a chama indecifrável...
Não deixar morrer em seu olhar
Aquele espanto primordial
De menino puro ao amar
Nem deixar viver em seu ser
Aquele medo primordial
De homem imaturo pra morrer.
CIRANDA
Acordo de manhã
E aí está o mundo
Barulhento, traquinas
Saudável criança.
Fazer o quê?
Senão entrar nesta ciranda
E brincar de crescer.
HIPOCRISIA
Procuramos ter
Pensamentos puros e elevados
Enquanto emporcalhamos
Nossos rios mais sagrados.
NO HORIZONTE UM SOL SEMPRE
No horizonte
Vermelho
Brilhante
Morre
Naturalmente
Um sol
No ocidente
No mesmo instante
No oriente
Um sol
Naturalmente
Nasce
Brilhante
Vermelho
No horizonte.
RIMBAUD
Senhor
Quando a devastação total vier
Fazei descer dos céus preciosos
Os caros corvos horrorosos
-hostes estranhas-
Somos tão ignorantes
Que precisamos vê-los
Em toda sua repugnância
Para acendermos as luzes
De nossas consciências...
Mas senhor
Deixai esta esperança
Aos que se escondem
No escuro da derrota
Sem futuro.
ESTAÇÃO LIBERDADE
Sobram bancos e mármores
Nessa estação de metrô
O trem é rápido
As pessoas apressadas
Devagar vomito
Numa lixeira próxima
Impecavelmente
Limpa.
MEDO
Minha sensibilidade
Escondeu-se atrás do medo
Minha inteligência
Atrás do muro
O coração não vê presente
A cabeça não vê futuro
Silencioso tateio meu caminho
Zigue - zagueando poesia.
IDADES
Meu corpo
Tem a idade de um homem
Minha mente
A de um ancião
A idade de uma criança
Tem meu coração.
SERTANEJO
Pés de alpercatas
Marcam a terra vermelha
Desdenhoso o vento apaga
Cada passo a seu tempo
Seguindo andarilho
Caminhos de lugar
Nenhum.
CÁIS
Todos atracados
Neste imenso porto
Por um fio amarrados
Caminhamos soltos
Olhando pra quem sabe
Na vastidão do céu
Do ser poder achando
Que a verdade encontra se aqui.
SUTIL
A palavra é um impecilho
Diante do que você quer tocar:
O sentimento.
Use-a
De maneira suave.
Algo como
Mergulhar olhos n’água
Ver o peixe
E sentir-se pescador.
CANTO ZEN
Gosto do cantinho
Das escadas estradas clareiras
Gosto do cantinho
De mim mesmo
E gosto muito
Deste planeta
Cantinho do universo.
ANDARILHO
Lá vinha ele
Lento sujo sebento
Pés no chão...
Aos que fingiam não vê-lo
Dançava o balé
Do ser humano.
PARTO
O poeta pare
Com imenso prazer
A dor que sugere vida
E nessa tentativa de alegria
Gera poesia.
JARDIM DOS POETAS
No jardim dos poetas
As flores são azuis e amarelas
Pequeninas libélulas
flutuando sobre a relva
Sob uma fina chuva de sol
Onde o dia alegre explode
Perenemente
Van Gogh.
OUTONO
Na amarelada
Árvore da vida
Colho alguns frutos
Do outono que chegou
De mansinho
Provando neles
Um enjoado sabor de mim.
SIMPLES ASSIM
Sou passo
O mundo espaço
A vida caminho.
O objetivo que traço
Cabe num simples abraço
Num olhar ou num carinho.
FLOR DE LÓTUS
Lá fora brilha o sol
Enquanto me escondo
Nas sombras e sobras do ego
Tentando colher
Do lodo que envolve minh’alma
A mais bela pura e alva
Flor de mim.
FENIX
O mundo explode à minha volta
Entre os escombros
Procuro-me
No que brota.
SONS DO SILÊNCIO
A palavra às vezes encanta
Quando embargada na garganta
A palavra às vezes enternece
No silêncio de uma prece
A palavra às vezes extrapola
Num doce acalanto de viola
A palavra às vezes atrapalha
Uma atitude ou coisa que o valha
A palavra calada ou escrita
Quando fala à alma, grita.
CAMPO SANTO
Oh, Babilônia cinzenta!
Teus caminhos violentos nos conduzem
A este jardim suspenso
Cujas flores de plástico
Regamos anualmente
Com meia dúzia
De lágrimas sinceras.
FRÁGIL LIBERDADE
Para cada pobre preso
Um verso livre
Para cada liberdade
Uma rosa
Ainda que frágil
E despretensiosa.
SUNSHINE
A cada manhã
Sem pressa palavra ou esquema
Nasce no horizonte
O mais belo quente e espetacular
Poema.
SILÊNCIO
Sabendo que o olhar é mira
Que a boca é cano
Que a língua é gatilho
E as palavras, balas...
Escolhi o silêncio e o sonho
Como armas.
P.A.L.A.V.R.A
Minhas palavras
São tijolos
Que edificam pessoas
E tijoladas
Que derrubam máscaras.
PODER É PHODA
Nossa elite de merda
Encontra se
Por vezes à direita
Por outras à esquerda
Mas sempre acima da lei
Em cima do povo
E no centro do poder.
SCHOOL
Muitas vezes
Andando por seus corredores silenciosos
Sinto-me como quem caminha
Por uma catedral vazia
Entretanto
É na algazarra de suas crianças
Que ouço os mais belos hinos
Da esperança.
LIVRE DOCENTE
Sou um livre pensador
Que caminha por aí
Disfarçando a própria dor
Ensinando o que não aprendi
Pois o que aprendi
A escola não ensina
Vida se apreende
De esquina em esquina.
CAMINHANDO CONTRA O VENTO
Não tenho pressa pra nada
Caminho mais lento a estrada
Correndo não curto a paisagem
Parado atrapalho a passagem
Tranqüilo consigo galgar
Um lance a mais dessa escada.
CREPÚSCULO
Guardou a lua no bolso
Caminhou sob uma fina garoa de sombras
Chegou em casa tranqüilo...
Pendurou o cabelo no prego
Jogou os olhos sobre a cômoda
Colocou o sorriso no copo
E perenemente
Adormeceu.
SAMPAULO
Conheço-te mais que a palma de minha mão
Cidade imensa intensa
“Cidadão”
És a menina dos olhos do Brasil
Olhos coração de um povo
Que bate combate disputa
Luta!!!
Para uns és apenas uma puta
(por acolheres todos sem distinção)
Para outros és a santa cidade da esperança
Num futuro urgente agora presente.
Parabéns São Paulo
E a todos são-paulinos, claro!
AGORA
A vida acontece
A todo o momento e em qualquer lugar
Estejamos ou deixemos de estar.
Atemporal escorre pelos dedos das mãos
Pegajosa lambuza-nos de gente
O coração.
ADOLESEMPRE
Meu coração inconseqüente
Doce quente adolescente
Esquece o tempo que diz:
Tuas melenas brancas
Não fazem de ti criança
Então por que és tão feliz?
MERCADORES DA PALAVRA
Não aceito a palavra maldita
A palavra bendita rejeito
Prefiro a palavra não dita
Que faça abalar-me o peito
Porque
A palavra afiada
Eloqüente e vazia
Não me diz nada
E
A palavra mansa
Mas cheia de hipocrisia
Simplesmente me cansa.
UÓ UÓ UÓ
Enquanto a ambulância
Desespera-se pela avenida
Trânsito e pessoas engarrafadas
Dizem não à vida.
RIMBAUD
Chama-me veado
O que não aprendeu
A ser homem.
Tarado,
A que não arrefece
O desejo que me consome.
Chama-me vagabundo
Cada vassalo do mundo...
Mas
Eu me chamo poeta
Meu sobrenome é poesia
Meu pai, a noite
Minha mãe, o dia
E tenho por irmãos
Os sonhos de liberdade
Colhidos entre os pesadelos
Dessa merda chamada
Realidade.
SEMEADOR
Planto sementes, resoluto.
Sei nunca serei
Árvore ou flor
Sou fruto.
SEM CHANCE
Essa vida é uma escada
Apontada para o nada
Para aqueles que a vivem
Sem gozar a utopia
Das pessoas simples, vadias
Que amam e entregam-se amadas.
CICLOS
Nasço no verão
No outono frutifico
Morro no inverno
Na primavera ressuscito.
ALQUIMI$TA$
No princípio
Era o verbo
Um alquimista alegre
Cercado de crianças geniais.
Hoje
Alquimistas e crianças
$ão $eres $érios demai$.
CLOWN
Pintei um sorriso no rosto
Para disfarçar meu cansaço.
Hoje
Uns me chamam de louco
Outros exclamam, palhaço!!!
BEZERRAS
Tato frágil
Tito mais
Tita flor
Ambrózia
Pai...
Perdoem-me
Ser mais forte
Poeta
Sonho mais.
ADULTO
Vestido de feliz
Caminha o adulto triste
Enquanto a felicidade
Despida de maldade
Brinca de roda
Num coração
Infantil.
FLOR DO MEIO DIA
Eu nasci para ser feliz
Não lembro mais porque chorei
Também não sei porque sofri
O que sei é que amo demais
Do meu jeito meu mau jeito.
Importante!
É que ainda hoje consigo sorrir
Porque nasci neste lugar
E vim morar com a poesia
Menina flor
Musa do meio-dia.
FIO DE OURO
Num céu azul
De iluminadas núvens
Uma pipa dançando
Brinca de liberdade
Atrelada ao sonho que livra
Um garoto de sua dura realidade.
ESCREVER
Não jogues com palavras
Como quem joga dados
Nem com sentimentos
Como quem lê mãos...
Tuas sementes
Cultiva na mente
Com raízes fincadas
Em teu coração.
INAISMOS
As melhores drogas
Terminam em ina
Os piores dogmas em ismo
A própria vida
Começa numa vagina
E termina no abismo.
AVENIDA QUALQUER
Dos altos prédios impassíveis
Janelas olham, radares observam,
Antenas perfuram o céu
Da famosa cidade...
Êta ruazinha futriqueira, meu Deus!
OFÍCIO
Escrevo
Como quem acha um trevo
Escrevo
Como quem dá um beijo
Escrevo
Tudo o que desejo
Por muito desejar
Escrevo
Escrevo
Escrevo.
PRIMAVERA
A primavera talvez seja
Duas mãos cheias de cores
Que vêm silenciosamente
Abrir uma janela de fora pra dentro de nós
Movimentando de lá pra cá, daqui pra lá
Suavemente as coisas velhas
Sem nada quebrar.
BAILARINA
(Karina)
Ah, teus pés [rimas preciosas]
Bailam giram voam encantam
Como duas rosas.
Ai, teus pés [delicados artistas]
Quando finalmente no chão
Correm para as mãos do calista.
BALA PERDIDA
(No alvo)
Arma empunhada
Mirada no ser humano
Bala no alvo
Corpo no chão
Inocente ou não
Revólver do povo
Gatilho da lei
Ou vice-versa
Não sei
Sei que toda bala
Acerta sempre em cheio
O peito e o seio
De nossa frágil sociedade.
NEGRO
Negro jazz
Negro samba
Negro soul.
O branco canta e se encanta
Com o que a alma africana
Criou
Negro jazz
Negro samba
Negro soul
E Rock and roll!
OSCAR
Deus revela-se
Através das curvas
Leves, sinuosas e belas
Das monumentais mulheres
De Niemeyer.
LEITURA
Palavras dormem
No silêncio dos livros fechados
Cobertos pela poeira da ignorância...
Mas acordam
Em algazarra num livro aberto
Pela curiosidade de uma criança.
MÁSCARA
Endureci a face
Para não sofrer com a emoção
Meu rosto virou uma careta
E um calo, meu coração.
CANDLE
Se não podes ser sol
Almeje apenas ser uma vela
Que ilumine ao menos
Tuas próprias trevas.
TORCEDOR
No vôo livre da bola
Gira o sonho torcedor
Querendo ver na gaiola
Preso passarinho gol.
Pula xinga dança chora
Briga ri da própria dor
Quando perde vai embora
Mas volta sempre vencedor.
Seja campeão ou vice
Seja último ou não
Não importa o que dizem
Vence sempre a emoção.
SIBA
Meu pai
Era um homem baixo
Franzino e tímido até
Trazia os olhos tristes
Por amor a uma mulher
Sisudo agreste macho
Nunca aprendera a chorar
Sua palavra era silenciosa
E seu sorriso tentava esconder
Passos que não se sabiam...
Nunca precisou de dinheiro para beber
Mas sempre precisou da bebida
Para viver.
AMBROSIA
Minha mãe
Conserva ainda a esperança
E um encanto de criança
Nesses tempos tão hostis!
Em sua santa ignorância
Ensina-me confiança
Lição que desaprendi.
Minha mãe
Apesar de tantos anos
Segue humilde caminhando
Com um sorriso novo em flor...
Quando esquece suas dores
A comparo com as flores
Transbordando de amor.
RIMBAUD
Temos todos
Um rebelde dentro da gente
Um anjo caído torto e indecente.
Reminiscências
Da estação que passamos
No inferno da adolescência...
E só purgando no deserto do agora
Damo-nos conta de que aquela
Fora nossa melhor fase.
PEQUENO MERCADOR
Levantava madrugada
Antes de brilhar o sol
Do acordar da passarada
Em seu canto si bemol.
A noite, o vento, o frio
Castigavam-no franzino
E um medo interior
Massacravam o menino.
No escuro germinando
Ser mente ali brotava...
Quietinho, covarde, esperando
O dia que não nascia,
A feira que já fervia
Na vida que começava.
AMIGOS FOREVER
(para Danillo Feitosa)
Em vários momentos
Tenho saudades de nossa amizade
Tranqüila, sincera
Que nada queria além do instante.
Eu sei não sou
O que fora anteontem
Passo como tudo me transformo.
A paz do universo confidencia
Que as cores em lindas melodias
Desenham toda unidade
Comigo, contigo, contudo...
Espero não ter perdido
Sua amizade.
CANÇÃO DO EXÍLIO
Pátio vazio, olho o gradil
Meu Deus! estou preso!
Pior que cadeia,
Preso em mim mesmo!
Nem tenho direito
A um raio de sol
Que ilumine este pátio,
Que aqueça este peito.
Que me deixe sem jeito
De tentar esconder
Todo meu preconceito
Por não ter aprendido
O real, irreal sentido
Dessa magia, viver.
BLEFE
Não me atrevo
A ser apenas
O que desejo
Escrevo.
Nem admito
Escrever somente
O que sinto
Minto.
DISTRAÍDO
Olhava os pássaros
Procurando caminhos
Enquanto meus passos
Pisavam seus ninhos.
DEMASIADO HUMANO
Precisamos de um Deus
Que nos una
Precisamos de um Deus
Que nos ame
Precisamos de um Deus
Que nos puna
Precisamos de um Deus
Precisamos
Mesmo que seja Um
Que nós próprios
Inventamos.
POETA
Todo dia amanhecia verso
Toda vida gostara do outono
Toda noite dormia certo
Não morreria
Enquanto houvesse um sonho.
ENGANO
Não sou profeta
Nem vagabundo
Sou um poeta
A caminhar no mundo.
Não sou religioso
E nem ateu
Sou um homem
Que se acredita deus.
Na realidade sei
Que nada sou
Nada serei
Além do engano
De querer ser
Mais que humano.
Não importa o que você é para os outros; seja o mais importante para você. HFBchagal
terça-feira, 1 de junho de 2010
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