quarta-feira, 22 de maio de 2013

ENSAIOS


A GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA

Hernando Feitosa Bezerra

 

 

Introdução


 

A educação nacional é organizada em “regime de colaboração”, onde à União cabe a “coordenação da política nacional de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais” (Título IV, Artigo 8º da Lei 9394/96).

A redefinição de responsabilidades dos governos municipais, estaduais e federal inclui estratégias de assistência técnica e financeira geradas no nível central, a exemplo dos programas gerenciados pelo FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) do Ministério da Educação, que obriga aos municípios criarem mecanismos de gestão para viabilizarem a participação da comunidade no controle e execução das políticas como contrapartida para o financiamento de projetos locais (como o FUNDEF - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério) (AZEVEDO, 2002).

A União adota referenciais como a democracia e a pluralidade, para caracterizar o que denomina de modelo de sistema educacional competente, onde a administração de projetos é associada ao conceito de eficiência de gestão.

Conforme a Lei, caberia aos estabelecimentos de ensino “elaborar e executar sua proposta pedagógica”, e aos docentes participar de sua elaboração, além de elaborar e cumprir seu próprio plano de trabalho em conformidade com a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino.

Algumas estratégias foram, então, instituídas pelos governos municipais e estaduais para viabilizar as determinações do governo central, como a exigência da criação dos Conselhos Escolares e a elaboração por parte das escolas de um Projeto Político Pedagógico (PPP), um Plano de Desenvolvimento Escolar (PDE), a instituição da Unidade Executora (UEX), estratégias estas vinculadas aos princípios da gestão democrática e da autonomia escolar.

Este trabalho tem como objeto de estudos a gestão democrática formalmente proposta no sistema educacional brasileiro e a emergência de padrões de comportamento e códigos de conduta que afloram na organização escolar com vistas a compreender a sua cultura no âmbito do debate sobre a gestão democrática.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional define as normas da gestão democrática do ensino público conforme os princípios da “participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola” e da “participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes”, bem como “progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira”, assegurando, portanto, a participação dos diversos segmentos na organização escolar e a autonomia das unidades escolares públicas de educação básica, dois elementos que fundamentam a análise aqui desenvolvida. (BRASIL, 1996, Lei nº 9394/96).

A literatura sociológica brasileira nos mostra que nos anos 1960 e 1970 a educação foi enfatizada como elemento central para o processo de desenvolvimento econômico e social. Esse foco foi redirecionado nos anos 80 numa conjuntura de democratização política, quando eram confirmados os baixos índices de rendimento do sistema educacional, considerados como um dos obstáculos à consecução da educação como um direito, como formação para a cidadania crítica, consciente e participativa.

Nos anos 1990, período caracterizado como da sociedade do conhecimento, reformula-se a perspectiva de cidadania adotada na política educacional brasileira e a discussão passa a ser centrada principalmente na reorganização da gestão escolar onde ganha relevo a participação nas tomadas de decisões coletivas. Do ponto de vista pedagógico, é enfatizado o desenvolvimento de competências e habilidades.

É nesse contexto que a autonomia institucional, disposta como democracia participativa na Constituição Federal de 1988 e consolidada na Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), torna-se estratégica para efetivar a descentralização política e financeira no setor educacional.

Desse modo, as políticas educacionais implementadas a partir de meados dos anos 90 reorientaram freqüentemente as responsabilidades administrativas para com os diversos níveis e modalidades de ensino, o que amplia, em alguns estados, o volume de ação tanto da esfera municipal que, além da educação infantil responsabiliza-se também pelo ensino fundamental, como o da esfera estadual que assume, prioritariamente, o ensino médio.

Essa redefinição tem sido denominada de perspectiva democrática restrita, conforme anota Azevedo,

“Trata-se de uma forma de descentralização que pode ser categorizada como economicista-instrumental, (...) em que o local é considerado como uma unidade administrativa a quem cabe colocar em ação políticas concebidas no nível do poder central.” (AZEVEDO, 2002:55)

É, certamente, a lógica economicista-instrumental que subjaz ao projeto da sociedade global e, no caso brasileiro, a política educacional tem requerido ajustes nas formas de gestão do sistema de ensino e das escolas, dando origem a novos modelos de gerenciamento organizacional.

 

Discutindo o conceito de democracia


A diversidade de significados atribuídos ao conceito democracia nos remete à acepção original do termo. Tendo origem na Grécia Antiga, traz o sentido amplo de governo do povo, compreendendo especificamente aqueles indivíduos considerados cidadãos, excetuando mulheres, escravos e crianças. Desde então, a concepção de democracia identifica um determinado nível de participação nas decisões comunitárias, mas o significado dessa participação não é consensual.

Assim, se na Grécia Antiga, o sentido da participação é restritivo à participação na vida política pública, na sociedade moderna é ampliado em consideração à revisão do próprio conceito de cidadania, que passa a incorporar um conjunto de direitos e deveres individuais, sociais, econômicos e culturais. A igualdade democrática de participação diz respeito, então, às dimensões política e social.

Vale ainda destacar que, na polis grega, a democracia era direta, ou seja, os cidadãos reuniam-se e tomavam decisões diretamente relacionadas ao modo de vida, modo distinto do que no contexto do estado moderno, onde a complexidade e a dimensão da população exigem práticas democráticas diferenciadas, mais especificamente indiretas ou representativas. A participação nas decisões políticas é então assegurada via direito, que é estabelecido socialmente através de um conjunto de regras, como a constituição.

Neste sentido, o Estado moderno tende a incorporar a participação da sociedade civil nos processos de decisão e controle político. No contexto atual, democracia tem sido colocada como a melhor maneira de defender os direitos individuais (liberdade individual), sendo que a tônica da discussão democrática passa das dificuldades do governo de todos para as dificuldades de governabilidade diante de uma sociedade tão complexa. (ESTÊVÃO, 2002)

Bobbio (1988: p.73) trata da distinção entre a democratização do estado e a democratização da sociedade, considerando que num estado democrático podemos encontrar uma sociedade cujas instituições (escola, família, serviços) não seguem a lógica democrática. Desta forma, tão importante quanto a dimensão política (quem pode votar), é a dimensão social (quais os espaços institucionais e organizacionais da democracia). Contrapõe-se democracia participativa e democracia representativa centralizada e enfatiza-se que uma democracia política só existe se for também democracia social.

A democracia social, segundo Santos (2001:243), relaciona-se à cidadania social relativa à “conquista de significativos direitos sociais, no domínio das relações de trabalho, da segurança social, da saúde, da educação e da habitação por parte das classes trabalhadoras”.

Entretanto, a concessão dos direitos sociais e das instituições que se encarregam de distribuí-los socialmente revela-se não apenas como alargamento de direitos, mas também como ampliação da obrigação política, ou seja, da integração política das classes trabalhadoras no Estado. Os direitos sociais fazem parte do desenvolvimento da sociedade como uma forma de controle sobre os indivíduos.

Democracia é também associada à liberdade de escolha dos dirigentes, o que significa limitação de poder e traz subjacente as idéias tanto de proteção, quanto de ameaça (via regulação). Nestes termos, o conceito é também associado à liberdade de mercado, compreendida como proteção das preferências individuais ou liberdade (individual) de escolha, o que gera oposição à proteção de direitos sociais (da coletividade) e pode ser chamada de democracia liberal.

A expressão democracia política é também utilizada em contraposição à democracia social quando entendida como expansão do poder ascendente dos cidadãos e se relaciona ao nível dos aspectos substantivos da organização das instituições sociais.

Quando Bobbio (1988) afirma que democratização significa passar da democracia política para a democracia social, conforme tratamos acima, enfatiza não apenas passar da democratização do Estado para a democratização da sociedade, processo formal que implica em vários centros de poder na sociedade (desconcentração).

Isso quer dizer que não basta instituir soluções de caráter normativo para que haja democracia e participação na sociedade: faz-se necessário o debate social e o surgimento da necessidade desta forma de organização nos diversos contextos, inclusive no nível institucional. Caso contrário, corre-se o risco de um reducionismo burocratizante.

 

Referências


AZEVEDO, Janete Lins (2002). Implicações da nova lógica de ação do Estado para a educação municipal. Educação e Sociedade. CEDES, vol.23,n. 80. São Paulo: Cortez.

BOBBIO, Norberto. (1988). Liberalismo e cultura. São Paulo: Brasiliense.

BRASIL. (1996) Lei 9394 de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília.

ESTÊVÃO, Carlos. (2002). Globalização, metáforas organizacionais e mudança educacional: dilemas e desafios. Porto, Portugal: Edições Asa.

SANTOS, Boaventura de S. (2001). Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. 8ª.ed. São Paulo: Cortez.

 


 
UMA PEDRA NO CAMINHO

Pretendo neste trabalho descrever sobre a palavra pedra nos trabalhos de Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto. dois dos maiores noetas brasileiros do século passado.

As escolas literárias nos dão um norte para esta questâo pois se no romantismo temos as musas etéreas, os amores impossíveis, no gongorismo essas musas começam a descer à


terra e a serem mais "palpáveis" em poetas como castro Alves, mas assim mesmo a poesia ainda estava impregnada de uma melosidade, uma coisa melodramática que ainda hoje

encontramos com muita força nos versos das canções populares e em muitos poetas que se acham modernos. Com a chegada do modernismo se faz necessária uma mudança radical de postura cultural no sentido de se valorizar o que aqui fazíamos como povo que tenta se libertar do jugo das influências coloniais. E evidente que os artistas brasileiros beberam nas fontes européia e gostaram tanto que voltaram ao Brasil com "sede" de mudanças e estas foram significativas em vários ramos da arte: música, pintura, poesia. escultura, etc... Vou me ater fundamentalmente à poesia pós 45, período no qual o modernismo se reafirma. Dos primeiros modernistas temos por pilares Mário de Andrade e Oswald de Andrade, alguns anos mais tarde temos João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade como os novos pilares da nova poesia brasileira. O poeta, seja ele de qualquer época, sempre procurou o equilíbrio entre o mundo exterior e o seu mundo interior, equilíbrio ténue uma vez que cada expirar vira passado e o inspirar esperança de futuro. Muitos naufragam no meio do caos exterior, outros no meio do caos interior. Onde buscar equilíbrio se a mais arraigada disposicão do ser humano é a da segurança, da não mudança e por consequência, da estagnação? haja vista, a resistência a quaquer mudança que se avizinhe no caminho cultural. Aqui chego no ponto. O poeta, o artista em geral, procura equilibrar-se no vazio, tendo plena consciência da morte. O povo em geral, mais sábio, tenta equilibrar-se no concreto: casa, comida, trabalho (ainda que escravo), o povo tenta eternizar-se em sua prole; o poeta tenta sublimar a morte tentando eternizar-se em sua obra. João Cabral de Melo Neto é povo, e sua palavra é pedra, seu rosto é pétreo, sua poesia é sólida. Cabral não quer sustentar-se no vazio, precisa olhar, ver as cores, os tons, as formas desse grande circo, precisa sentir o volume, apalpar as carnes...Veja o poema Frutas de Pernambuco.

Pernambuco tão masculino

que agrediu tudo, de menino,

é capaz das frutas mais fêmeas

e da femeesa mais sedenta,

são ninfomaníacas, quase,

no dissolver-se, no entregar-se, sem nada guardar-se, de puta, mesmo nas ácidas, o açúcar,

é tão carnal, grosso, de corpo,

de corpo para corpo, o coito.

que mais na cama que na mesa

seria cómodo querê-las.

João Cabral prefere acreditar que o mundo é uma grande pedra que serve de âncora impedindo o poeta de afastar-se da terra, da lida. de ser humano. A palavra de João Cabral não dá margens a devaneios inúteis, não cria deuses e muito menos deixa-se endeusar ou envolver-se nas ondas de crendices e superstições tão caras aos poetas em seral. O sentido de terra, de chão impregna toda obra de João Cabral, pois nascido no nordeste, conheceu mais do que ninguém as agruras do sertanejo, observe isso no poema o Luto do Sertanejo.

Pelo sertão não se tem como não se viver sempre enlutado; lá o luto não é de vestir, é de nascer com, luto nato.

sobe de dentro, tinge a pele de um fosso fundo! é quase raça:

luto levado toda vida e que a vida empoeira e desgasta.

e mesmo o urubu que ali exerce, negro tão puro noutras praças, quando no sertão, usa a batina negra-fouveiro. pardavasca.

Essa agrura, essa visão dura ficou dentro de João Cabral e ele levou para todos os lugares que foi mundo afora, o cheiro, o gosto, a angústia, nunca o sonho, aliás até a música ele renegou por ser o meio mais simples de inebriar um coração aflito. O poeta não se entregou às facilidades das sete notas musicais e preferiu as sete maravilhas do mundo. Deve-se notar que muitas das religiões, muitos dos credos, basearam suas crenças em grandes montanhas ou montes, numa procura simbólica por Deus. João Cabral sempre preferiu tirar cobre, ferro, diamantes ou cristais dessas montanhas e transformá-los em construções onde pode-se sentir o poder humano sobre a matéria, vejo isso no poema

O Engenheiro,

A luz. o sol. o ar livre envolvendo

o sonho do engenheiro.

o engenheiro sonha coisas claras: superfícies, tênis, um copo de água.

o lápis, o esquadro, o papel;

o desenho, o projeto. o número,

o engenheiro pensa o mundo justo,

o mundo que nenhum véu encobre.

Certas tardes subíamos ao edifício,

a cidade diária, ganhava um pulmão

de cimento e vidro.

A água, o vento, a claridade, de um lado o rio. no alto as nuvens

situam a natureza o edifício crescendo de suas forças simples.

Carlos Drummond de Andrade nada paralelamente a Cabral, mas sua pedra fundamental é diferente. Em João Cabral a pedra de toque é a desolação, a angústia, a tristeza que fixa o poeta ao solo e o faz "cimentar" seus sentimentos com palavras objeto ou substantivas. Em Drummond a pedra de toque é o tédio, o marasmo. A falta de perspectiva do próprio poeta faz com que ele lute interiormente para mudar sua vida. observe o poema Cidadezinha

Qualquer.

Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar.

um homem vai devagar, um cachorro vai devaear. um burro vai devagar.

devagar... as janelas olham, êta vida besta, meu Deus.

Carlos Drummond é um rapaz tímido do interior de Minas e não se conforma com a lentidão e a preguiça das horas de Itabira. sua cidade natal. O poeta quer movimento, quer mudança, pois tem o pulsar jovem e não quer observar a vida passar monótona pelas janelas, e nem ser observado como bicho estranho através dos olhos impotentes das janelas.

Carlos Drummond precisa partir, precisa voar. Aaui faço um preâmbulo apenas nara salientar eme ambos CD.A e João Cabral saíram de suas cidades e foram para o Rio de Janeiro, mas tanto um como outro,, na verdade, nunca deixaram seu torrão, pois tudo o aue escreveram remete-nos à terra natal deles^ claro, de forma particular mas ambos conservaram-se interioranos mesmo dentro de grandes metrópolis.

Carlos Drummond de Andrade tinha um lado & Cabraliano menos duro, menos inflexível. Se João Cabra! é pedra, Carlos Drummond empresta um pouco de alma a essa pedra e ela torna-se tão real que impede aue o poeta a ignore. A pedra no caminho de Daimmond talvez seja a mesma no caminho de todo ser vivo mas em especial no caminho do ser humano que por ser finito enquanto matéria vê nessa finitude a constatação de não importa onde estejamos se numa cidadezinha qualquer ou em Madri(a pedra estará lá, lembrando-

nos sempre que somos passageiros nesta nave. Se a morte para João Cabral é a morte do outro, para Drummond ela é sua morte, então é preciso encontrar um significado para a vida. é preciso solidificar a palavra. Enauanto o corpo vai se esfarelando e o tempo corre ligeiro a palavra deve permanecer perene para além de pedra no caminho de todos, Carlos Drummond cismava mais, pensava mais, trabalhava a palavra como um escultor, seu mundo era seu pensamento e seu pensamento precisava da palavra coisa, objeto. no entanto

todo o seu mundo cabia numa escrivaninha e numa estante de livros, já João Cabra! gostava

de lugares, de gente, precisava do movimento das coisas, era pedra em movimento, era eterno retirante. Carlos continuava em Itabira e viajava o mundo à sua maneira, ambos se negavam a ser românticos, mas não negavam o romantismo aos que os lêem, concluindo poderíamos dizer que João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade foram homens cordiais, são génios que parecem pairar sobre as emoções humanas mas não conseguem negar a paixão que verso a verso podemos sentir pulsar em seus poemas, resta-nos apenas a constatação de que há uma pedra no caminho e precisamos aprender com ela

queiramos ou não.

 

UMA PEDRA NO CAMINHO

 

 

 

Pretendo neste trabalho descrever sobre a palavra pedra nos trabalhos de Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto. dois dos maiores noetas brasileiros do século passado.

As escolas literárias nos dão um norte para esta questâo pois se no romantismo temos as musas etéreas, os amores impossíveis, no gongorismo essas musas começam a descer à

terra e a serem mais "palpáveis" em poetas como castro Alves, mas assim mesmo a poesia ainda estava impregnada de uma melosidade, uma coisa melodramática que ainda hoje

encontramos com muita força nos versos das canções populares e em muitos poetas que se acham modernos. Com a chegada do modernismo se faz necessária uma mudança radical de postura cultural no sentido de se valorizar o que aqui fazíamos como povo que tenta se libertar do jugo das influências coloniais. E evidente que os artistas brasileiros beberam nas fontes européia e gostaram tanto que voltaram ao Brasil com "sede" de mudanças e estas foram significativas em vários ramos da arte: música, pintura, poesia. escultura, etc... Vou me ater fundamentalmente à poesia pós 45, período no qual o modernismo se reafirma. Dos primeiros modernistas temos por pilares Mário de Andrade e Oswald de Andrade, alguns anos mais tarde temos João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade como os novos pilares da nova poesia brasileira. O poeta, seja ele de qualquer época, sempre procurou o equilíbrio entre o mundo exterior e o seu mundo interior, equilíbrio ténue uma vez que cada expirar vira passado e o inspirar esperança de futuro. Muitos naufragam no meio do caos exterior, outros no meio do caos interior. Onde buscar equilíbrio se a mais arraigada disposicão do ser humano é a da segurança, da não mudança e por consequência, da estagnação? haja vista, a resistência a quaquer mudança que se avizinhe no caminho cultural. Aqui chego no ponto. O poeta, o artista em geral, procura equilibrar-se no vazio, tendo plena consciência da morte. O povo em geral, mais sábio, tenta equilibrar-se no concreto: casa, comida, trabalho (ainda que escravo), o povo tenta eternizar-se em sua prole; o poeta tenta sublimar a morte tentando eternizar-se em sua obra. João Cabral de Melo Neto é povo, e sua palavra é pedra, seu rosto é pétreo, sua poesia é sólida. Cabral não quer sustentar-se no vazio, precisa olhar, ver as cores, os tons, as formas desse grande circo, precisa sentir o volume, apalpar as carnes...Veja o poema Frutas de Pernambuco.

 

Pernambuco tão masculino

que agrediu tudo, de menino,

 é capaz das frutas mais fêmeas

e da femeesa mais sedenta,

são ninfomaníacas, quase,

no dissolver-se, no entregar-se, sem nada guardar-se, de puta, mesmo nas ácidas, o açúcar,

é tão carnal, grosso, de corpo,

de corpo para corpo, o coito.

que mais na cama que na mesa

seria cómodo querê-las.

João Cabral prefere acreditar que o mundo é uma grande pedra que serve de âncora impedindo o poeta de afastar-se da terra, da lida. de ser humano. A palavra de João Cabral não dá margens a devaneios inúteis, não cria deuses e muito menos deixa-se endeusar ou envolver-se nas ondas de crendices e superstições tão caras aos poetas em seral. O sentido de terra, de chão impregna toda obra de João Cabral, pois nascido no nordeste, conheceu mais do que ninguém as agruras do sertanejo, observe isso no poema o Luto do Sertanejo.

 

 Pelo sertão não se tem como não se viver sempre enlutado; lá o luto não é de vestir, é de nascer com, luto nato.

 

sobe de dentro, tinge a pele de um fosso fundo! é quase raça:

luto levado toda vida e que a vida empoeira e desgasta.

 

e mesmo o urubu que ali exerce, negro tão puro noutras praças, quando no sertão, usa a batina negra-fouveiro. pardavasca.

 

Essa agrura, essa visão dura ficou dentro de João Cabral e ele levou para todos os lugares que foi mundo afora, o cheiro, o gosto, a angústia, nunca o sonho, aliás até a música ele renegou por ser o meio mais simples de inebriar um coração aflito. O poeta não se entregou às facilidades das sete notas musicais e preferiu as sete maravilhas do mundo. Deve-se notar que muitas das religiões, muitos dos credos, basearam suas crenças em grandes montanhas ou montes, numa procura simbólica por Deus. João Cabral sempre preferiu tirar cobre, ferro, diamantes ou cristais dessas montanhas e transformá-los em construções onde pode-se sentir o poder humano sobre a matéria, vejo isso no poema

O Engenheiro,

 

 A luz. o sol. o ar livre envolvendo

 o sonho do engenheiro.

o engenheiro sonha coisas claras: superfícies, tênis, um copo de água.

 

o lápis, o esquadro, o papel;

o desenho, o projeto. o número,

o engenheiro pensa o mundo justo,

o mundo que nenhum véu encobre.

                                           Certas tardes subíamos ao edifício,

a cidade diária, ganhava um pulmão

de cimento e vidro.

 

A água, o vento, a claridade, de um lado o rio. no alto as nuvens

situam a natureza o edifício crescendo de suas forças simples.

 

Carlos Drummond de Andrade nada paralelamente a Cabral, mas sua pedra fundamental é diferente. Em João Cabral a pedra de toque é a desolação, a angústia, a tristeza que fixa o poeta ao solo e o faz "cimentar" seus sentimentos com palavras objeto ou substantivas. Em Drummond a pedra de toque é o tédio, o marasmo. A falta de perspectiva do próprio poeta faz com que ele lute interiormente para mudar sua vida. observe o poema Cidadezinha

Qualquer.

 

Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar.

 

um homem vai devagar, um cachorro vai devaear. um burro vai devagar.

 

devagar... as janelas olham, êta vida besta, meu Deus.

 

Carlos Drummond é um rapaz tímido do interior de Minas e não se conforma com a lentidão e a preguiça das horas de Itabira. sua cidade natal. O poeta quer movimento, quer mudança, pois tem o pulsar jovem e não quer observar a vida passar monótona pelas janelas, e nem ser observado como bicho estranho através dos olhos impotentes das janelas.

Carlos Drummond precisa partir, precisa voar. Aaui faço um preâmbulo apenas nara salientar eme ambos CD.A e João Cabral saíram de suas cidades e foram para o Rio de Janeiro, mas tanto um como outro,, na verdade, nunca deixaram seu torrão, pois tudo o aue escreveram remete-nos à terra natal deles^ claro, de forma particular mas ambos conservaram-se interioranos mesmo dentro de grandes metrópolis.

Carlos Drummond de Andrade tinha um lado & Cabraliano menos duro, menos inflexível. Se João Cabra! é pedra, Carlos Drummond empresta um pouco de alma a essa pedra e ela torna-se tão real que impede aue o poeta a ignore. A pedra no caminho de Daimmond talvez seja a mesma no caminho de todo ser vivo mas em especial no caminho do ser humano que por ser finito enquanto matéria vê nessa finitude a constatação de não importa onde estejamos se numa cidadezinha qualquer ou em Madri(a pedra estará lá, lembrando-

nos sempre que somos passageiros nesta nave. Se a morte para João Cabral é a morte do outro, para Drummond ela é sua morte, então é preciso encontrar um significado para a vida. é preciso solidificar a palavra. Enauanto o corpo vai se esfarelando e o tempo corre ligeiro a palavra deve permanecer perene para além de pedra no caminho de todos, Carlos Drummond cismava mais, pensava mais, trabalhava a palavra como um escultor, seu mundo era seu pensamento e seu pensamento precisava da palavra coisa, objeto. no entanto

todo o seu mundo cabia numa escrivaninha e numa estante de livros, já João Cabra! gostava

de lugares, de gente, precisava do movimento das coisas, era pedra em movimento, era eterno retirante. Carlos continuava em Itabira e viajava o mundo à sua maneira, ambos se negavam a ser românticos, mas não negavam o romantismo aos que os lêem, concluindo poderíamos dizer que João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade foram homens cordiais, são génios que parecem pairar sobre as emoções humanas mas não conseguem negar a paixão que verso a verso podemos sentir pulsar em seus poemas, resta-nos apenas a constatação de que há uma pedra no caminho e precisamos aprender com ela

queiramos ou não.

AS TRANSGRESSÕES DE CAMÕES
 
 
1. INTRODUÇÃO
 
 
Falar sobre a importância de Camões é algo, antes de tudo, prazeroso. Isto porque o poeta reuniu, em sua obra, o reflexo de si mesmo pois Camões, como homem, atraía a atenção das belas mulheres, amando-as ao mesmo tempo em  que amava sua Pátria; como poeta, exaltava-as, idealizava-as, sem deixar de lado a Razão (característica de sua época).
 
Além do forte lirismo que marca sua obra, Camões esmerou-se na poesia épica, contando, com brilhantismo, os feitos heróicos de seu povo na belíssima epopéia Os Lusíadas.
 
Ambos os estilos – lírico e épico – influenciaram outros poetas, como bem diz Massaud Moisés em sua obra A literatura portuguesa através dos textos, p. 72: “Em primeiro lugar, pelo fato de obedecerem ao princípio da imitação, quer dizer, da aceitação de modelos preexistentes à elaboração da obra de arte, sejam eles os escritores greco-latinos, sejam os modernos que lhes seguiram as pegadas.”
 
Assim, vemos Camões a partir do Classicismo em quase todas as Escolas Literárias chegando até nossa geração: ora através da forma, do racionalismo; ora pela beleza, pela musicalidade de seus versos; outras vezes pela universalidade dos temas. Enfim, ao analisarmos atentamente alguns poetas, vemos que, certamente, Camões ali esteve inspirando-os em mais uma obra-prima.
 
No decorrer deste trabalho, explicitaremos essa influência camoniana comparando-o a alguns poetas que o sucederam, até mesmo os contemporâneos.
           
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. O POETA
 
Luís Vaz de Camões é o maior poeta do Classicismo português e um dos maiores da Literatura Universal. Escreveu poesias líricas e o poema épico Os Lusíadas.
 
Sua poesia lírica apresenta dois aspectos distintos: de um lado, Camões continua na linha dos poetas medievais, escrevendo na medida antiga e expressando sentimentos e emoções numa linguagem simples, vocabulário popular e com muita musicalidade.
 
Por outro lado, faz, também, poesias na medida nova (soneto), inspirando-se nas idéias renascentistas. Seu estilo, aqui, é mais sutil, mais elaborado, quase sempre revelando uma atitude racional na tentativa de compreender e analisar seus estados de alma: o Amor, a Vida e o Destino.
 
A poesia épica portuguesa e renascentista tem em Os Lusíadas sua maior realização.
 
Narrando os feitos portugueses na época das navegações, o poema trata da viagem de Vasco da Gama às Índias. O verdadeiro herói dessa epopéia é o povo português, representado pelo navegador, mostrando sua força, partindo para as conquistas e dominando a natureza.
 
Percebe-se aí a ligação do poema com o ambiente renascentista, época de valorização e afirmação do homem, orgulhoso e consciente de suas forças.
 
 
 
 
 
2.1. Camões épico:
 
A obra épica de Camões foi a mais bela expressão nacionalista do poeta em relação ao povo português que já estava preparado, social e psicologicamente, para esse tipo de poesia que, uma hora ou outra, haveria de acontecer, tendo em vista os fatos históricos vivenciados por aquele povo.
O amor de Camões pela Pátria era tão grande que, pouco antes de seu falecimento, numa carta ao amigo D. Francisco de Almeida, confidenciou:
“Enfim, acabarei a vida e verão todos que fui tão afeiçoado à minha pátria, que não me contentei de morrer nela, mas com ela.”
Esse desabafo deu-se em virtude de Portugal ter aclamado rei o Cardeal D. Henrique que não teria condições de garantir sucessão legítima e Portugal acabou caindo nas mãos de Filipe II.
 
É evidente que diante desse amor, nada expressaria melhor que um poema épico, onde ficassem registrados todos os feitos heróicos daquele povo tão amado pelo poeta.
 
A fidelidade à sua Pátria é, pois,  traduzida nessa obra, que também é fiel aos fatos históricos por que passou Portugal, fato este que não prejudica, em momento algum, o que no poema é mais importante: A poesia.
 
Além de narrar os fatos heróicos de seu povo, Camões não deixou de utilizar sua lírica – tão bem colocada e apropriada – nos diversos cantos da epopéia. Isto, aliás, foi o que deu originalidade à obra que o imortalizou e fez com que outros poetas tentassem uma imitação, mas que ficaram, apenas, na tentativa pois, até hoje, não houve quem conseguisse ultrapassar a mestria e genialidade de Camões.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.2. Camões lírico:
 
 
Durante muito tempo, a genialidade de Os Lusíadas – reconhecidamente a maior epopéia do Renascimento – deslocou e absorveu quase tudo que se lia de Camões. Hoje, e cada vez mais, a sua lírica vem sendo reconhecida como poesia da mais alta expressão, que nada deve à épica.
 
A permanente atualidade dos poemas amorosos e reflexivos tem sido contínuo motivo de espanto. A multiplicidade de vozes e perspectivas, a dramaticidade das contradições, a flexibilidade dos ritmos, a surpreendente fabulação de imagens, as inesperadas danças de conceitos, têm revelado a obra de Camões como uma das mais importantes líricas da literatura ocidental.
 
O fundamental da lírica está nas redondilhas e nos sonetos. Encontram-se em seus poemas basicamente dois grandes pólos, duas grandes estruturas métricas: a chamada medida velha, os versos de cinco e de sete sílabas poéticas, as redondilhas menores e maiores, respectivamente, e a chamada medida nova, os versos de dez sílabas que passaram a ser conhecidos como decassílabos ‘camonianos’.
 
No entanto, mais do que métricas, no sentido de medida silábica, de contagem de sílabas, trata-se, evidentemente, de ritmos. De um lado, os ritmos leves e ligeiros dos versos em redondilhas, enraizados na tradição popular e medieval; de outro, a espontaneidade e a leveza desses metros é recriada por Camões com graciosidade dificilmente superável.
 
 
 
Os temas e motivos são originados de fontes populares, de cantigas de amor e de amigo, e também da poesia palaciana. Além destes, encontram-se, também, ainda na medida velha, poemas reflexivos, filosófico, de complexa estruturação de imagens e de sentidos.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

3. CAMÕES E AS ESCOLAS LITERÁRIAS

 
 
 
A Literatura Brasileira, através dos tempos, assim como a Literatura de outras Nações, tem mostrado inúmeras obras-primas de diversos autores que, por um motivo ou outro, seguem os modelos dos grandes gênios que os antecederam e, conseqüentemente, deixam sua herança aos seus sucessores.
 
Assim, vê-se a contribuição de Camões para a riqueza da nossa Língua e Literatura, da mesma forma que, também ele,  herdara sua arte de outros gênios. Sua importância é enorme e sua influência atinge nossos poetas atuais. Essa genialidade atravessou quase quatro séculos, passando por quase todas – senão todas – as Escolas Literárias e ali deixando sempre o que lhe foi de melhor para que os futuros poetas vissem nele o mestre e, desta forma, eternizassem-no.
 
Douglas Tufano, a respeito do assunto, afirma:
 
“Alguns escritores são capazes de criar tal expressão poética que passam a influenciar toda a poesia posterior. Foi o que aconteceu com Luís de Camões, cujos poemas têm servido de fonte de inspiração para inúmeras gerações de poetas.
 
Seus sonetos amorosos tornaram-se célebres, influenciando inclusive autores contemporâneos como Vinícius de Moraes. “[1]
 
Conforme essa afirmação, Camões não pertenceu somente à sua época.  Projetou-se no futuro pois, já no século XVI, Luís de Camões era moderno. Observa-se tal modernidade no soneto de Vinícius de Moraes, quando comparado a Camões:


1
 
Amor é fogo quer arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
 
É  um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder;
 
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
 
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
(Luís de Camões)
 
 
2
 
Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento.
 
Seu mais doce desejo se amargura
Todo instante perdido é um sofrimento
Cada beijo lembrado uma tortura
Um ciúme do próprio ciumento.
 
E vivemos partindo, ela de mim
E eu dela, enquanto breves vão-se os anos
Para a grande partida que há no fim
 
De toda a vida e todo o amor humanos:
Mas tranqüila ela sabe, e eu seu tranqüilo
Que se um fica o outro parte a redimi-lo.
(Vinícius de Moraes)


 
Esses dois sonetos parecem conversar. A intertextualidade entre ambos é nítida. Vinícius, indubitavelmente, tomou por inspiração sua musa tal qual Camões o fazia no remoto século XVI.
 
É sabido que cada Escola Literária tem características próprias, no entanto, tudo aquilo que foi bom no passado irá permanecer, criando raízes e produzindo frutos, adaptados, evidentemente, às características de cada movimento literário.
 
 
 
         
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3.1. Influência camoniana no Barroco:
 
Quando compara o Barroco ao Renascimento,  Enrique Wölfflin afirma:  “o Barroco representa não um declínio, mas o desenvolvimento natural do Classicismo renascentista para um estilo posterior”[2] .
 
Essa afirmação permite-nos a constatação da genialidade de Camões, uma vez que além de clássico, possuía,  características que iriam manifestar-se mais tarde no Barroco -  não apenas na poesia mas a prosa também iria beneficiar-se de sua influência.
 
Ainda, segundo Wölfflin, “esse estilo, diferentemente do Renascimento, já não é táctil, porém visual, isto é, não admite perspectivas não visuais, e não revela sua arte, mas a assimila”[3].
 
A partir dessa idéia, estabelece-se a seguinte diferença:
 
 
RENASCIMENTO
 
BARROCO
1.     Linear: sentido pela mão.
2.     Composta em plano: de jeito a ser sentido.
3.     Partes coordenadas de igual valor
4.     Fechada: deixando de fora o observador.
5.     Claridade: absoluta
1.     Pictórica: seguida pela vista.
2.     Composta em profundidade: de jeito a ser seguida.
3.     Partes subordinadas a um conjunto.
4.     Aberta: colocando dentro o observador.
5.     Claridade: relativa
 
 Com base no exposto, vemos que o Barroco surgiu após um desenvolvimento  também chamado de Maneirismo,  por ser uma forma tardia do Renascimento, um estilo pré-barroco caracterizado pela ausência de realismo e de impressionismo e que apresenta aspectos ornamentais marcantes.
 
No Brasil, grandes autores valeram-se da sabedoria camoniana e nele inspiraram-se para a elaboração de suas obras, evidentemente restritos às próprias limitações. Um deles foi Gregório de Matos de quem Massaud Moisés afirma: “Decerto, o poeta amparava-se nos modelos oferecidos pelos mestres barrocos, mas é Camões quem lhe fornecia o contingente maior do arsenal imagético e filosófico de que lançava mão para retratar a mulher amada e o sentimento que lhe despertava. Dada a freqüência e a densidade com que surge na poesia de Gregório, Camões constitui, sem dúvida, o guia do vate baiano.”[4]
 
Os sonetos abaixo descritos apresentam semelhanças vocabular, estrutural e temática. O primeiro, de Gregório de Matos, é dedicado “À Morte de Afonso da França”, mancebo generoso, da principal nobreza da Bahia e muito amigo do poeta; o segundo, de Camões, é dedicado a Dinamene, a “moça da China” que morreu num naufrágio quando o poeta preferiu salvar sua obra-prima Os Lusíadas ao invés da, então, amada. Comparemo-los:
1
“Alma gentil, espírito generoso,
Que do corpo as prisões desamparaste,
E qual cândida flor em flor cortaste
De teus anos o pâmpano viçoso.
 
 
Hoje que o sólio habitas luminoso,
Hoje que ao trono eterno te exaltaste,
Lembra-te daquele amigo, a quem deixaste
Triste, confuso, absorto e saudoso.
 
Tanto tua virtude ao céu subiste,
Que teve o céu cobiça de gozar-te,
Que teve a morte inveja de vencer-te.
 
Venceste o foro humano em que caíste,
Goza-te o céu por premiar-te,
Senão por dar-me a mágoa de perder-te.”
2
“Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.
 
Se lá no assento etéreo, onde subiste
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
 
E se vires que pode merecer-te
Alguma coisa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
 
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.”
 
Um outro exemplo da influência de Camões sobre Gregório de Matos está no soneto abaixo em que Gregório de Matos  traduz, em seus versos, o estado de espírito da época por ele vivida.
 
A vós correndo vou, braços sagrados
Nessa Cruz sacrossanta descobertos,
Que para receber-me estais abertos,
E por não castigar-me estais cravados.
 
A vós, Divinos olhos, eclipsados,
De tanto sangue e lágrimas cobertos,
Pois para perdoar-me estais despertos,
E por não condenar-me estais fechados.
 
A vós, pregados Pés por não deixar-me:
A vós, sangue vertido para ungir-me:
A vós, cabeça baixa por chamar-me:
 
A vós, Lado patente, quero unir-me.
A vós, Cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.
 
A forma do soneto está ligada à de Camões (medida nova) e traz versos decassílabos e rimas do tipo ABBA / ABBA / CDC / DCD. Quanto ao conteúdo, podemos notar um certo “parentesco” com as produções camonianas, apesar, é claro,  da temática diferir da usual no Classicismo  - cujas características voltavam-se para o politeísmo e não para o  monoteísmo. Tudo isso deve-se, evidentemente, às características próprias de cada Escola Literária. Entretanto, é inquestionável a presença de Camões nesse soneto de Gregório de Matos.
 
As obras de Camões são, sabidamente, poéticas mas encontramos sua influência também na prosa. Padre Vieira em o  “Sermão do Mandato” tece toda sua argumentação sobre o episódio bíblico de Jacó e Raquel tal qual Camões em seu soneto “Sete anos de pastor...”. O raciocínio de ambos – Vieira e Camões – são parecidos diferenciando, apenas na forma. Este, na forma de soneto, aquele em prosa.
 
Nos dois textos o Amor é questionado: para Vieira o amor humano e o amor cristão (divino) são colocados frente a frente e, evidentemente, o amor divino é colocado em destaque a fim de mostrar a grandeza do verdadeiro amor; para Camões, a exaltação do amor humano se faz presente. “Nesse poema é o canto do Amor; o Amor em toda a sua plenitude, amor-doação, que se compraz na fruição mesma da sensação amorosa, no sentir-se amado e amar, independendo de condições materiais de espaço e tempo. Uma realidade que o poeta conscientemente deforma, na sua visão do mundo, atribuindo a Jacó atitudes espirituais que são muito mais dele, poeta, preocupado com o exame e as repercussões deste mágico e misterioso sentimento que ‘nasce não sei onde, vem não sei como e dói não sei por quê’. As figuras aproveitadas por Camões se tornam personagens ideais e nesta nova posição entendemos melhor o situar-se deste Jacó, vivido no poeta.”[5]
1
“Quatro ignorâncias podem concorrer em um amante, que diminuam muito a perfeição e merecimento de seu amor: Ou porque não se conhecesse a si; ou porque não conhecesse a quem amava; ou porque não conhecesse o amor; ou porque não conhecesse o fim onde há de parar, amando.
(...)
A Segunda ignorância que tira o merecimento ao amor, é não conhecer quem ama a quem ama. Quantas coisas há no mundo muito amadas, que, se as conhecera quem as ama, haviam de ser muito aborrecidas! Graças logo ao engano e não ao amor. Serviu Jacó os primeiros sete anos a Labão, e ao cabo deles, em vez de lhe darem a Raquel, deram-lhe a Lia. Ah enganado pastor e mais enganado amante! Se perguntarmos à imaginação de Jacó por quem servia, responderá que por Raquel. Mas se fizermos a mesma pergunta a Labão, que sabe o que é e o que há de ser, dirá com toda a certeza que serve por Lia. E assim foi. Servis por quem servis, não servis por quem cuidais. Cuidais que vossos trabalhos e os vossos desvelos são por Raquel, a amada, e trabalhais e desvelais-vos por Lia, a aborrecida. Se Jacó soubera que servia por Lia, não servira sete anos nem sete dias. Serviu logo ao engano e não ao amor, porque serviu para quem não amava. Oh quantas vezes se representa esta história no teatro do coração humano, e não com diversas figuras, se não a mesma! A mesma que na imaginação é Raquel, na realidade é Lia; e não é Labão o que engana a Jacó, senão Jacó o que se engana a si mesmo. Não assim o divino amante, Cristo. Não serviu por Lia debaixo da imaginação de Raquel, mas amava a Lia conhecida como Lia. Nem a ignorância lhe roubou o merecimento ao amor, nem o engano lhe trocou o objeto ao trabalho. Amou e padeceu por todos, e por cada um, não como era bem que eles fossem senão assim como eram. Pelo inimigo, sabendo que era inimigo; pelo ingrato, sabendo que era ingrato; e pelo traidor, sabendo que era traidor: ‘Sciebat enim quisnam esset, qui traderet eum’.
Deste discurso se segue uma conclusão tão certa como ignorada; é que os homens não amam aquilo que cuidam que amam. Por quê? Ou  porque o que amam não é o que cuidam; ou porque amam o que verdadeiramente não há. Quem estima vidros, cuidando que são diamantes, diamantes estima e não vidros; quem ama defeitos, cuidando que são perfeições, perfeições ama e não defeitos. Cuidais que amais diamantes de firmeza, e amais vidros de fragilidade; cuidais que amais perfeições angélicas, e amais imperfeições humanas. Logo, os homens não amam o que cuidam que amam. Donde também se segue que amam o que verdadeiramente não há; porque amam as coisas, não como são, senão como as imaginam; e o que se imagina, e não é, não o há no Mundo. Não assim o amor de Cristo, sábio sem engano: Cum dilexisset suos, qui erant in Mundo.”[6]
2
“Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prêmio pretendia.
 
Os dias, na esperança de um só dia
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
 
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
 
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: - Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!
 
 
3.2. Camões no Arcadismo:
 
Os poetas árcades, no Brasil, apesar de um contexto histórico diferente dos anteriores, retoma algumas das características clássicas. Daí o nome de Neoclassicismo dado ao Arcadismo.
 
“Valorizando a razão e a simplicidade, os arcádicos inspiraram-se na sobriedade dos poetas clássicos do Renascimento (sobretudo Camões) e da antigüidade grega e latina. Daí o nome Neoclassicismo com que também se costuma designar esse período.”[7]
 
O novo nesse movimento literário prende-se à mitologia greco-romana tão explorada pelos poetas clássicos. A temática, entretanto, difere pois, aqui, os árcades voltam-se para a natureza enquanto que lá, o antropocentrismo é que era a grande razão do seu movimento que, além do mais, procurava estabelecer um equilíbrio entre a razão e o sentimento.
 
Nem por isso Camões deixou de estar presente no Arcadismo; de influenciar os poetas em suas obras quer líricas, quer épicas.
 
Um dos autores que merece destaque enquanto seguidor de Camões é Cláudio Manuel da Costa. “Seus temas giram em torno das reflexões morais, das contradições da vida, tão ao gosto dos poetas quinhentistas, percebendo-se inclusive uma marcante influência camoniana em seus sonetos.”[8]
Observemos os seguintes versos:
 
“Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar.”[9]
 
“Faz a imaginação de um bem amado,
Que nele se transforme o peito amante.”[10]
 
Tal influência é notada no cultivo da poesia bucólica, pastoril na qual menciona a natureza como refúgio
 
“Sou pastor, não te nego; os meus montados
São esses, que aí vês; vivo contente
Ao trazer entre a relva florescente
A doce companhia dos meus gados.”
                     
                        ou, ainda, o sofrimento amoroso, as musas:
 
                                   “Parece, que estes prados, e estas fontes
                                   Já sabem, que é o assunto da porfia
                                   Nise, a melhor pastora destes montes.”
 
A poesia épica foi o grande desejo de muitos poetas. Quem não quer exaltar a beleza, os feitos, o heroísmo de um povo? Quem não gostaria de registrar os fatos históricos da pátria amada?
 
Muitos quiseram e fizeram sua poesia épica sem, entretanto, a mestria do gênio. Dentre eles, destaca-se José de Santa Rita Durão cujo poema, Caramuru, caracteriza-se pela exaltação da terra brasileira, incorrendo o autor em descrições da paisagem que lembram a literatura informativa do Quinhentismo, valorizando a vida natural (mais pura, distante da corrupção). O elemento indígena é tratado, pelo autor, dentro de um prisma informativo.
 
“É evidente a influência camoniana na distribuição da matéria épica e na forma; por outro lado, Santa Rita não se utiliza da mitologia pagã, como Camões em Os Lusíadas, mas apenas de um conservadorismo cristão.
 
Quanto à forma, o poema é composto de dez cantos, versos decassílabos, oitava rima camoniana (ABABABCC). A divisão é tradicional das epopéias, constando de proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo.”[11]
 
Como exemplo, selecionamos duas estrofes do Canto VI, onde é narrada a morte de Moema.
 


“Copiosa multidão da nau francesa

Corre a ver o espetáculo,assombrada;
E ignorando a ocasião da estranha empresa,
Pasma da turba feminil, que nada.
Uma que às mais precede em gentileza
Não vinha menos bela, do que irada;
Era Moema, que de inveja geme,
E já vizinha à nau se apega ao leme.
(...)
 
- Bárbaro (a bela diz:) tigre e não homem...
Porém o tigre, por cruel que brame,
Acha forças no amor que enfim o domem;
Só a ti não domou, por mais que te ame.
Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem,
Como não consumis aquele infame?
Mas pagar tanto amor com tédio e asco...
Ah! Que corisco és tu... raio... penhasco!”


 

                      

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3.3. A importância de Camões no Romantismo:

 

O Romantismo, enquanto Escola Literária, opõe-se ao Classicismo exatamente por ser essa a sua meta principal pois “há uma tendência a caracterizar a nova atitude do espírito humano estabelecendo-se uma oposição entre Romantismo e Classicismo.”[12]

 

A despeito de todas as características românticas, Camões torna-se importante a esse movimento à medida que o poeta não se contentou em ater-se às rígidas regras clássicas; já em sua época, Camões antecipa traços do intimismo romântico através das idéias, das ações e do sentimento poético.

 

Mesmo com características próprias, os poetas românticos não deixam de usar como tema o Amor, a Mulher, o Nacionalismo.

 

Quanto à estrutura do poema, os românticos procuram libertá-la das  normas clássicas, mas não abandonam a medida nova camoniana – o soneto; a medida velha também aparece de quando em vez em alguns poemas românticos e a poesia épica é transformada em prosa, como romance.

 

A estrutura sofreu modificações mas a essência – conteúdo, tema – é universal e, em sendo assim, está presente em toda e qualquer obra em que haja o questionamento do ser humano.

 

O soneto abaixo mostra bem o quanto Camões, alguns séculos após sua existência física, ainda está vivo na alma dos poemas e... na dos poetas...

 

 

“Pálida à luz da lâmpada sombria,

sobre o leito de flores reclinada,

Como a lua por noite embalsamada,

Entre as nuvens do amor ela dormia!

 

Era a virgem do mar, na escuma fria

Pela maré das águas embalada!

Era um anjo entre nuvens d’alvorada

Que em sonhos se banhava e se esquecia!

 

Era mais bela! o seio palpitando...

Negros olhos as pálpebras abrindo...

Formas nuas no leito resvalando...

 

Não te rias de mim, meu anjo lindo!

Por ti – as noites eu velei chorando,

Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!”

(Álvares de Azevedo)

 

Álvares de Azevedo, como todo poeta da Segunda geração romântica, trata o Amor e a Mulher amada de forma platônica, idealizada. Ora, não foram essas as premissas para os sonetos de Camões. Evidentemente, na época clássica, o platonismo e a idealização davam-se de maneira racional – se é que se pode chamar “racional” o sentimento -, enquanto que no Romantismo essas características mais subjetivas traduziam a explosão do sentimento por alguém. Mas, nem por isso os românticos deixaram de seguir o mestre clássico e tampouco Camões deixou de ser romântico mesmo quando inserido nas características clássicas.

 

Numa análise mais aprofundada percebemos nos poemas de Castro Alves, mais especialmente em Navio Negreiro que, se comparado à grandiloqüência de sua linguagem com a da passagem d’Os Lusíadas em “Gigante Adamastor”, a influência camoniana é nítida.

 

“E existe um povo que a bandeira empresta

P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...

E deixa-a transformar-se nessa festa

Em manto impuro de bacante fria!

 

Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira é esta,

Que impudente na gávea tripudia?!...

Silêncio!... Musa! Chora, chora tanto

Que o pavilhão se lave no teu pranto...

 

(...)

 

Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...

Andrada! Arranca este pendão dos ares!

Colombo! Fecha a porta de teus mares!”

(Castro Alves)

 

XLI

 

“E disse: Ó gente ousada, mais que quantas

No mundo cometeram grandes coisas,

Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,

E por trabalhos vãos nunca repousas,

Pois os vedados términos quebrantas

E navegar meus longos mares ousas,

Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho,

Nunca arados de estranho ou próprio lenho:

(...)

 

L

 

Eu sou aquele e grande Cabo

A quem chamais vós outros tormentório,

Que nunca a Ptolomeu, Pompônio, Estrabo,

Plínio e quantos passaram fui notório.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3.4. O Parnasianismo e Camões:

 

A Escola Parnasiana inserida na Realista apresenta características  extremamente opostas às do Classicismo. Entretanto, a característica que mais identifica uma poesia como ‘parnasiana’ é a perfeição formal. Tal perfeição foi buscada pelos poetas lá nos remotos tempos clássicos: o soneto. Não estaria aí a presença, mais uma vez de Camões? É claro que sim.

 

Além da grande utilização do soneto para expressarem a perfeição da poesia, os poetas parnasianos valiam-se, também da mitologia greco-romana tão explorada por Camões.  Se os parnasianos não primavam pelo conteúdo substancial, dadas as circunstâncias da época, a descrição tornava-se-lhes a tônica de suas poesias e nestas embutiam-se os temas tão decantados por Camões.

 

Vejamos como Alberto de Oliveira traduz esses aspectos em seu soneto Vaso Grego.

 

“Esta de áureos relevos, trabalhada

De divas mãos, brilhante copa, um dia,

Já de aos deuses servir como cansada,

Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

 

Era o poeta de Teos que a suspendia

Então, e, ora repleta ora esvasada,

A taça amiga aos dedos seus tinia,

Toda de roxas pétalas colmada.

 

Depois... Mas o lavor da taça admira,

Toca-a, e do ouvido aproximando-a às bordas

Finas hás de lhe ouvir, canora e doce

 

Ignota voz, qual se da antiga lira

Fosse a encantada música das cordas,

Qual se essa voz de Anacreonte fosse.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3.5.  Aspectos camonianos no Simbolismo:

 

A Escola Simbolista prima pela transcendência, pela oposição entre espírito e matéria. Seus autores, apesar de uma aparente objetividade traduzem em seus poemas uma preocupação à luz do individual, pois até mesmo a generalização revela o íntimo de um ser preocupado com o Homem, a partir da sua dúvida pessoal.

 

Não são tratadas, nos poemas, emoções periféricas ou vulgares; antes há uma preocupação de ordem mais alta nos versos simbolistas; é como se o poeta se debruçasse à beira do seu cais interior e procurasse trazer do fundo das águas algo de que percebe o brilho intenso.

 

“Trata-se nitidamente de uma atitude de reflexão; a matéria da poesia se apresenta em termos de elementos intelectuais. As palavras revelam uma concepção, ou, pelo menos, uma preocupação com uma concepção mística da vida.”[13] Há, portanto, maior preocupação coma essência vital.

 

Camões também em sua época mostrava traços reflexivos, questionadores da essência humana, do mistério transcendental, sem, no entanto, abandonar as características da Escola a qual pertencia mas, por conta de sua genialidade não limitou-se totalmente a tais características; permitiu-se vislumbrar o conflito da alma humana, principalmente diante de um sofrimento que pode, por vezes, levar o indivíduo à loucura.

 

Evidentemente, Camões não colocou a liberdade da essência humana na morte ou na loucura porém, viu-a como um seguimento da vida terrestre. Nesse aspecto a presença camoniana no Simbolismo é nítida.

 

Vejamos, mais uma vez, alguns versos do seu soneto dedicado a Dinamene:

 

“Alma minha gentil, que te partiste

Tão cedo desta vida, descontente,

Repousa lá no céu eternamente,

E viva eu cá na terra sempre triste.

 

Se lá no assento etéreo, onde subiste

Memória desta vida se consente,

Não te esqueças daquele amor ardente

Que já nos olhos meus tão puro viste.”

 

A visão de transcendência, da oposição matéria x espírito nesses versos é inquestionável.

 

Cruz e Sousa, poeta expressivo do Simbolismo vale-se, também, da transcendência, do conflito humano, da prisão da essência humana num plano material. Um de seus sonetos “Cárcere das Almas” traduz brilhantemente essa idéia. Nele o poeta questiona a vida interior, introspectiva, silenciosa, o homem voltado para dentro de si mesmo. Afinal, “Que chaveiro possui as chaves do Céu, capazes de abrir as portas do Mistério?”. Isso, certamente, vai ao encontro do questionamento camoniano, da dúvida quanto a existência de um plano espiritual: “Se lá no assento etéreo onde subiste / Memória desta vida se consente / Não te esqueças daquele amor ardente / Que já nos olhos meus tão puro viste”.

 

 

Notamos, desta forma, aspectos camonianos no soneto de Cruz e Sousa. Se a semelhança da essência poética não bastasse, ainda temos o aspecto formal: soneto com versos decassílabos, com rimas ABBA / ABBA / CCD / EED. Fonicamente, percebemos a semelhança pois o  ritmo em ambos os sonetos é marcado na sexta sílaba poética.

 

Vejamos, agora, o Cárcere das Almas:

 

“Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,

Soluçando nas trevas, entre as grades

Do calabouço olhando imensidades,

Mares, estrelas, tardes, natureza.

 

Tudo se veste de uma igual grandeza

Quando a alma entre grilhões as liberdades

Sonha e sonhando, as imortalidades

Rasga no etéreo Espaço da Pureza.

 

Ó almas presas, mudas e fechadas

Nas prisões colossais e abandonadas,

Da dor do calabouço, atroz, funéreo!

 

Nesses silêncios solitários, graves,

Que chaveiro do Céu possui as chaves

Para abrir-vos as portas do Mistério?!”

 

 

 

 

 

 

3.6.  Traços camonianos no Modernismo:

 

O Modernismo caracteriza-se pela ruptura com todos os modelos do passado, entretanto, por mais que tentassem romper com tais modelos restaram, aos autores modernos, elementos importantes dos quais valeram-se (esses autores) para uma nova tradução da realidade ocidental.

 

Essa realidade deveria ser mostrada como sempre foi feita: sob um nome definidor das características próprias da época – uma rotulação essencialmente estética. Assim, recorreu-se a um nome genérico, capaz de englobar as mais variadas tendências da literatura a partir do alvorecer do multifacetado século XX: Modernismo, palavra que tem, portanto, a função de representar tais tendências independentemente do elemento meramente cronológico. Isso, porém, ao invés de prejudicar, só trouxe ao mundo ocidental um dos mais fecundos e soberbos movimentos literários.

 

Desde Fernando Pessoa até Mário de Andrade, percebemos uma característica marcante dessa época: o hermetismo próprio, aliás, dos poetas dessa fase.

 

Mas... onde entra Camões nessa modernidade?

 

Exatamente na visão hermética do poeta.

 

O hermetismo é um dos traços responsáveis pela dificuldade de penetração no mistério da poesia, que se configura sobretudo na imaginística de que faz uso o poeta.

 

O hermetismo, aliás, não é exclusividade dos modernistas. Já vimos em outras Escolas Literárias esse traço. “Mesmo os clássicos apresentam a sua dose, às vezes, bem forte de hermetismo, como é o caso de Camões e, sobretudo, de Luís de Gôngora.”[14]

 

Vejamos alguns trechos de poemas de poetas modernistas que bem explicitam esses traços:

 

1

 

“Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito

E a cor das flores é transparente de as velas de grandes navios

Que largam do cais arrastando nas águas por sombra

Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...

 

O porto que sonho é sombrio e pálido

E esta paisagem é cheia de sol deste lado...

Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio

E os navios que saem do porto são estas árvores ao sol...”

(Fernando Pessoa)

 

2

 

“Eia! eia! eia!

Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!

Eia telegrafia sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente!

Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!

Eia todo o passado dentro do presente!

Eia todo o futuro já dentro de nós! Eia!...”[15]

 

3

 

“Irene preta

Irene boa

Irene sempre de bom humor.

 

Imagino Irene entrando no céu:

 

-          Licença, meu branco!

E São Pedro bonachão:

-          Entra, Irene, você não precisa pedir licença.”

(Manuel Bandeira)

 

4

 

“Tua presença é uma carne de peixe”

(Mário de Andrade)

 

5

 

“Nasce não sei onde, vem não sei como

e dói não sei por quê”

(Camões)

 

 

 

 

 

 

4. AS TRANSGRESSÕES DE CAMÕES

 

 

Como vimos, a partir do Romantismo, as Escolas Literárias procuraram  contrariar os modelos clássicos. No entanto Camões transgrediu esse fato.

 

Transgredir significa ir além. A inteligência, a visão, a genialidade de Camões atingiram poetas que, contrariando os princípios da Escola a que pertenciam, ou incluíram ou mencionaram Camões em suas obras.

 

E. M. de Mello e Castro faz um ensaio sobre as transgressões de Camões. Diz ele:

 

“Não admira que as situações de conflito social, moral, psicológico, político, ideológico, religioso, afetivo, econômico etc., sejam a substância existencial do poeta. As transgressões que agora nos interessam são contudo os indícios textuais que se encontram na sua poesia e a que poderemos chamar os traços da modernidade de Camões. Indícios esses que são reveladores do conflito estrutural que constitui o cerne da obra de Camões, colocado no encontro e na separação de várias águas e cuja imagem oficial do poeta da portuguesidade tem obscurecido quase completamente.”[16] A presença dessa modernidade está em vários poetas, como por exemplo:

 

 

 

 

                        4.1. Vinícius de Moraes:

 

Ao observarmos as obras de Vinícius de Moraes, notamos que tanto ele como Camões usam uma linguagem lógica, a preferência pelo vocabulário abstrato, pelo apuro formal, a obsessão pelo tema de brevidade da vida e o próprio apego ao soneto. Têm em comum, também, as fontes de inspiração:

 

Soneto de separação

 

De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma

E das bocas unidas fez-se a espuma

E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

 

De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama

E da paixão fez-se o pressentimento


E do momento imóvel fez-se o drama.

 

De repente, não mais que de repente

Fez-se de triste o que se fez amante

E de sozinho o que se fez contente.

 

Fez-se do amigo próximo o distante

Fez-se da vida uma aventura errante

De repente, não mais que de repente.

 

 

 

 

 

                        4.2. Caetano Veloso:

 

Caetano tem muitos objetos de inspiração: a terra natal (Alguém me avisou); os lugares que vive – cidades, países (Sampa); ordem política (Tropicália); os problemas sociais – típicos da época que transcorre (Purificaram o Subaé e Podres Poderes).

 

O amor e a mulher são temas constantes, a exemplo de Camões, tratados de várias formas, ora concretas, ora abstratas: Beleza pura; Muito; Leãozinho e Você é linda.

 

Outra característica desse poeta – e rara em outros compositores – é a de ”encarnar” o seu lado feminino, escrevendo poesias como mulher, ou seja, vendo o mundo pelo prisma feminino. Aliás, esta característica foi muito usada no Trovadorismo, nas cantigas de Amigo. Tal encarnação é tão real a ponto de ter um homem   como objeto do desejo e amor físico ou simbólico: Menino do Rio; Esse cara; Dom de iludir e Bárbara.

 

A natureza observada sob um prisma contemplativo, não ecológico, é, também, tema constante em suas obras (Lua de São Jorge e Luz do Sol).

 

O uso de expressões populares – gírias e palavrões – é comum nas obras de Caetano cujo objetivo é aproximar-se do realismo brasileiro.

 

 

Numa análise mais profunda das obras de Caetano Veloso, veremos que o questionamento da condição humana se faz presente em quase todas as suas poesias, não esquecendo, é claro, o lirismo que ele usa com mestria. Assim como Camões, Caetano utiliza os temas universais para traduzir o seu estado de espírito, inspiração e a realidade do seu país. Esses temas são: o Amor, a Mulher, a Pátria.

 

 

Sampa


 

Alguma coisa acontece no meu coração

Que só quando cruza a Ipiranga e Av. São João

É que quando eu cheguei por aqui

Eu nada entendi

Da dura poesia concreta de tuas esquinas

Da deselegância discreta de tuas meninas


(...)

 

Podres Poderes


 

Enquanto os homens exercem seus podres poderes

Motos e fuscas avançam os sinais vermelhos

E perdem os verdes

Somos uns boçais

(...)

Será  que nunca faremos senão confirmar

A incompetência da América Católica

Que sempre precisará de ridículos tiranos?

Será será que será que será que será

Será que essa minha estúpida retórica

Terá que soar, terá que se ouvir

Por mais zil / anos?

Enquanto os homens exercem seus podres poderes

Índios e padres e bichas, negros e mulheres

E adolescentes

Fazem o carnaval

(...)

Enquanto os homens exercem seus podres poderes

Morrer e matar de fome, de raiva e de sede

São tantas vezes gestos naturais

Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo

Daqueles que velam pela alegria do mundo

Indo mais fundo

Tins e bens e tais.

 

Você é linda


 

Fonte de mel

Nuns olhos de gueixa

Kabuki, máscara

Choque entre o azul

E o cacho de acácias

Luz das acácias

Você é mãe do sol

(...)

Você é linda

E sabe viver

Você me faz feliz

Esta canção é só pra dizer

E diz

(...)

 

 

  

 

                        4.3. Chico Buarque de Holanda:

 

Tanto mar


 

Foi bonita a festa, pá

Fiquei contente

E ‘inda guardo, renitente

Um velho cravo para mim.

Já murcharam tua festa pá

Mas certamente

Esqueceram uma semente

N’algum canto do jardim

Sei que há léguas a nos separar

Tanto mar, tanto mar,

Sei também quanto é preciso, pá

Navegar, navegar

Canta a primavera, pá

Cá estou carente

Manda novamente

Algum cheirinho de alecrim.

 

Este poema já nasceu musicado pois trata-se de um fado – música tipicamente portuguesa. Aqui, o autor exprime sua admiração e contentamento pelo momento político e social por que passa Portugal: A Revolução dos Cravos – após longo período ditatorial.

 

Ao mesmo tempo que lamenta a situação de ditadura que persiste no Brasil em época concomitante com a portuguesa, profetiza que tudo está para mudar, talvez inspirado nas mudanças de Portugal.

 

A “festa” significa a própria revolução. Refere-se a Portugal como “pá” recordando os laços históricos daquele país com o nosso, pois “pá” é uma expressão portuguesa e carinhosa de “pai”. O “cravo” simboliza de forma clara e real essa revolução. “Navegar” diz respeito ao tempo que ainda há de passar e as modificações que ainda virão antes que o Brasil, inspirado pelo “cheiro de alecrim” possa também ter sua revolução social.

 

As metáforas e a simbologia usadas no poema são próprias à mensagem que Chico Buarque quis transmitir. Elas estão ligadas à temática principal: o patriotismo. Aí sente-se uma vez mais a presença de Camões, talvez até na tentativa de exaltar sua tão amada pátria na inteligência de Chico, levando-se em conta os temas inspiradores da poesia: o mar, as revoluções, as navegações. Não foram esses temas que imortalizaram Camões na sua obra-prima Os Lusíadas?

 

Evidentemente não estamos comparando a canção de Chico com o poema épico de Camões. A grandiosidade de Os Lusíadas é incomparável, entretanto, a genialidade camoniana – como já pudemos explicitar – não pertenceu apenas á sua época. Ela transcendeu ao tempo e ao espaço. Camões é mais que a matéria: é a alma do amor português, seja ele cantado através do fado ou da poesia lírica ou, ainda, da poesia épica. Essa  Alma é, sem dúvida, imortal e Camões é parte ativa da Alma Portuguesa!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

6.    CONCLUSÃO

 

Luís Vaz de Camões é um poeta atual, pois sua genialidade não mais pertence ao mundo físico – limitado por sua gente e por seu povo -, mas ao Universo.

 

Nesse universo sentimos a presença de Camões em todos cuja alma é sensível o bastante para apreciar a beleza da natureza, para valorizar o povo de sua Nação, para valorizar a mulher na sua atuação nos meios social e familiar, enfim, questionar a essência humana.

 

Se  Camões de 1500 transpôs céus,  mares – nunca dantes  navegados -, épocas; intrigou tantos poetas e estudiosos de sua obra; perpetuou não apenas a obra mas, principalmente, o Amor – que o poeta tentou racionalizar em sua época -, hoje temos certeza de que sua genialidade não foi por acaso – fruto de um ser superdotado – foi, é e será sempre a mestra de tão nobres poetas atuais que fazem valer o aprendizado cantando e decantando essencialmente aquele Amor camoniano.

 

O Amor é, de fato, o elemento que pode modificar uma Nação porque é amplo e global.

 

Camões não particularizou esse Amor. Antes exaltou-o, depois praticou-o e, finalmente, deixou-o como legado a todos que querem senão segui-lo, ao menos entendê-lo!

 

 

 

 

 

7.    BIBLIOGRAFIA

 

ABDALA Júnior, Benjamim e PASCHOALIN, Maria Aparecida.

      História Social da Literatura Portuguesa. São Paulo: Ática,

      2ª ed., 1985, pp. 33 a 45.

 

BUENO, Francisco da Silveira. Camões – Os Lusíadas, Rio de

      Janeiro: Tecnoprint S/A .

 

CASTRO, E. M. de Mello. Literatura Portuguesa de Invenção.

      São Paulo: Difusão Editorial S/A, 1984, pp. 58-68.

 

GOTLIB, Nádia Battella. Luís Vaz de Camões. In: Literatura

      Comentada. São Paulo: Abril Educação, 1980.

 

MACHADO Filho, Aires da Mata. Camões Lírico. Col. Nossos

      Clássicos. Rio de Janeiro: Agir, 2ª ed., 1977.

 

_________________________. Camões Épico. Col. Nossos

      Clássicos. Rio de Janeiro: Agir, 1966.

 

MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix

      1964, pp. 61-75.

 

________________. História da Literatura Brasileira. São Paulo:

       Cultrix, 2ª ed. Vol. 1, 1985, pp. 110,111.

 

________________. A literatura portuguesa através dos textos.

       São Paulo: Cultrix, 1ª ed. 1968.

 

 

MONTEIRO, Adolfo Casais. Fernando Pessoa. Col. Nossos

      Clássicos, Rio de Janeiro: Agir, 4ª ed., 1968.

 

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. Rio de janeiro: José

      Olympio, 25ª ed., 1984.

 

NICOLA, José de. Literatura Brasileira – das origens aos nossos

     dias. São Paulo: Scipione, 1990, pp. 39-88.

 

PESSOA, Fernando Antonio  Nogueira. Fernando Pessoa Ficções

      do Interlúdio. 4: poesias de Álvaro de Campos, Rio de Janeiro:

      Nova Fronteira S/A, 1983.

 

PROENÇA Filho, Domício. Estilos de época na literatura. Rio

      De Janeiro: Liceu, 2a ed., 1969.

 

RODRIGUES, A . Medina et alli. Antologia da Literatura Brasileira.

      Textos comentados. Vol. II, São Paulo: Marco, 1979.

 

TUFANO, Douglas. Estudos de Literatura Brasileira. São Paulo:

      Moderna, 4ª ed. 1988, pp. 75-109.

 

WÖLFFLIN, Enrique. Conceptos Fundamentales en la Historia

      del  Arte.4ª ed. Madrid, 1961, pp. 164, 165.

 

CADERNO DE RESUMOS. V Reunião Internacional de

      Camonistas. Universidade de São Paulo – USP, SP, 1987, pp.

       35, 61, 155-160.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




[1] TUFANO, Douglas. Estudos de Literatura Brasileira. p. 49.
[2] WÖLFFLIN, Enrique. Conceptos Fundamentales en la Historia del Arte. Madrid,
 1961, pp. 164,165.
[3] Idem, p. 165.
[4] MOISÉS, Massaud. História da Literatura Brasileira. p. 110.
[5] PROENÇA Filho, Domício. Estilos de Época na Literatura. Rio de Janeiro: Liceu, p. 30.
[6] VIEIRA, Antonio Pe. Sermões. Rio de Janeiro: Agir, pp. 59-65.
[7] TUFANO, Douglas. Opus cit. p. 53.
[8] NICOLA, José de. Literatura Brasileira: das origens aos nossos dias. São Paulo: Scipione, p. 55.
[9] Camões, séc. XVI
[10] Cláudio Manuel da Costa, séc. XVIII
[11] NICOLA, José de. Opus cit., p. 58.
[12] PROENÇA Filho, Domício. Estilos de Época na Literatura. Rio de Janeiro: Liceu, 1969, p. 177.
[13] PROENÇA Filho, Domício. Opus cit. p. 236.
[14] PROENÇA Filho, Domício. Opus cit. p. 279.
[15] Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa – fragmento da Ode Triunfal.
[16] CASTRO, E. M. de Mello . Literatura Portuguesa de Invenção, São Paulo: Difusão Editorial S/A, 1984, pp. 58 a 68.

 

HERNANDO FEITOSA BEZERRA CHAGAL

 

 

 

 

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